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Walter Parreira: entre a tradição e a espada

Fabricante artesanal de armas, ele mostra as espadas históricas que guarda como uma preciosa herança de família

Kátia Calsavara Publicado em 01/09/2006, às 00h00 - Atualizado em 23/10/2017, às 16h36

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Aventuras na História - Arquivo Aventuras
Aventuras na História - Arquivo Aventuras

Quando eram pequenos, Walter Parreira e o irmão Carlos costumavam brincar de espadas. Só que, diferentemente de outros meninos, as espadas eram de verdade. Parece um brinquedo pouco comum para crianças, mas eles tinham o consentimento dos pais para manusear as armas. A família, que tem quase um século e meio de tradição na fabricação de espadas, deixava os meninos se “ambientarem” com aquele objeto que poderia fazer parte do futuro deles. Não deu outra. Aos poucos, os dois aprenderam a manusear lâminas e a fazer diversos tipos de armas.

Hoje, algumas décadas depois, os irmãos Walter e Carlos comandam a Ibéria Arsenal de Armeria, uma empresa familiar que fabrica artesanalmente espadas, armaduras, canhões e tudo o que se possa imaginar de objetos de combate. Suas famílias, a Parreira (portuguesa) e a Parra (espanhola), foram formadas por artesãos dedicados à fabricação de armas e vieram para o Brasil junto com a família real portuguesa, em 1808.

Além de comandar a empresa, Walter é hoje o guardião de uma coleção de espadas históricas conquistadas pelo avô, que deixou para ele e o irmão a função de cuidar delas e passá-las aos descendentes. Entre as peças dos irmãos Parreira estão cerca de 30 espadas de combate – algumas exibem marcas de sangue e dentes, adquiridas durante as lutas.

Uma das preciosidades é uma espada de oficial que foi usada em combates ocorridos na praia de Pituba, em Salvador, durante a guerra pela Independência brasileira, em 1822. Na coleção de Parreira, também está uma espada de um combatente que participou da Guerra de Canudos (1896-1897), uma das passagens mais sangrentas da história brasileira, na cidade homônima do interior da Bahia.

Outra raridade é uma wakizashi (espada curta japonesa), com cerca de 350 anos de história. Há 150 anos em poder da família, é uma das peças prediletas de Parreira. “Essa espada foi trazida para o Brasil junto com os imigrantes japoneses. Ela teria sido utilizada em combates anteriores à abertura dos portos japoneses, em 1853”, diz o colecionador. Walter também possui uma espada que pertenceu ao brigadeiro Fortunato Câmara de Oliveira (1916-2004), que lutou na Itália durante a Segunda Guerra Mundial.

Para o colecionador, existe uma ligação sentimental profunda entre o homem e a espada. “A união do homem com sua espada é eterna. Guardamos essa coleção, que foi de nossos avós, com muito cuidado e, certamente, elas vão passar para nossos filhos”, diz Walter. Ele recebe muitos pedidos de clientes em busca de uma espada específica e acredita que isso tenha relação com vidas passadas. Entre as mais pedidas estão as utilizadas pelos vikings.

Além de fabricar armas para as Forças Armadas brasileiras desde 1993, a Ibéria faz miniaturas e mais de 20 modelos de espadas medievais. Entre as peças mais procuradas pelos aficionados, hoje estão a Tizona, espada utilizada pelo herói espanhol El Cid, e a Excalibur, do rei Arthur. Outro item muito cobiçado pelos colecionadores é a gladius hispanus, espada curta de inspiração espanhola que era utilizada pelos legionários romanos.

Canhões com disparo real

Além de espadas, a Ibéria Arsenal de Armeria fabrica canhões e armaduras. Os canhões costumam ser vendidos com o dispositivo real de disparo, mas, para isso, é preciso obter a autorização do Ministério da Defesa. Fabricados em ferro fundido e bronze, eles são usados em ocasiões como comemorações e cenas de novelas e filmes. O mesmo acontece com as armaduras, feitas com aço carbono ou inox. Muitas delas também são usadas como objetos de decoração. Em média, a fabricação de uma armadura leva cerca de seis meses de trabalho. A Ibéria também recebe pedidos de pistolas, mosquetes e espadas para encenações.