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'Carlota Joaquina, princesa do Brazil': Como uma comédia histórica de 1995 pode ser tão atemporal?

Lançado há 26 anos, o filme consagrou a comédia histórica

Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 11/09/2021, às 09h00

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Cena do filme 'Carlota Joaquina, princesa do Brazil' - Divulgação/Warner Bros. Pictures
Cena do filme 'Carlota Joaquina, princesa do Brazil' - Divulgação/Warner Bros. Pictures

Após 26 anos de seu lançamento, o longa de estreia da atriz Carla Camuratti na direção, Carlota Joaquina, princesa do Brazil, não poderia ser mais atemporal.

Talvez seja pela escolha de sua narrativa, tão representativa para os brasileiros de que “quem conta um conto aumenta um ponto”, neste caso a sátira, ou pela estranha semelhança ao momento que vivemos.

No longa, a história da vinda da família real ao Brasil é contada pelo olhar de um estrangeiro, que mesmo repleto de absurdos não deixa de ser real, afinal não temos borboletas gigantes que sugam cérebro das pessoas, mas certamente vivenciamos um processo de abdução e caos político há tempos.

Divulgação/Warner Bros. Pictures

Considerado um marco no cinema nacional, Carlota Joaquina, assim como a história da corte portuguesa em si, passou por diversos obstáculos.

Com muito bom humor, sátiras e personagens incríveis, o longa que contou com a interpretação de Marieta Severo como protagonista e Marco Nanini como seu marido Dom João VI, foi rejeitado pelos distribuidores no começo.

Mas mesmo com orçamento limitado, a produção foi eficaz para montar no imaginário do espectador ao basear o roteiro em arte, e o longa não só foi um sucesso como alcançou premiações importantes, tais como o Prêmio Guarani de melhor atriz e direção de arte.

As cenas internacionais foram gravadas aqui mesmo em solo brasileiro. São Luís do Maranhão virou Portugal e Niterói a Espanha. A fotografia partiu de pinturas de artistas como Goya e Velázquez e o uso das cores foi fundamental para a construção da narrativa, tons frios para retratar a Escócia, quentes para a Espanha, pasteis para Portugal e, finalmente, quando chegam ao Brasil a mistura de todos.

Divulgação/Warner Bros. Pictures

A escolha do narrador distante é o que deu à Carla a liberdade de expressão para o bom humor e até ridicularização de contar nossa história, baseada em fatos. De uma forma ou de outra, o Brasil foi apresentado ao mundo.

Misturado ao lúdico de uma garota de 10 anos, a narrativa histórica, conta a chegada do português Dom João VI e a espanhola Carlota Joaquina às terras tupiniquins, e apesar do contexto namorar com um conto de fadas clássico, muito do que é visto ali foi resultado de pesquisas intensas sobre o passado que parece presente, como o casamento de uma menina infeliz aos nove anos de idade.

Além das pesquisas, a produção do roteiro contou com livros, cartas e até mesmo peças de teatro para ser elaborado. Ainda, as coisas que podem parecer absurdas são verdade, como o fato de todas galinhas terem sumido para consumo da corte, há um relatório fiscal sobre o ocorrido.

Outros acontecimentos também são verídicos, como Dom João não tomar banho, ficar meses com as mesmas roupas por medo de insetos brasileiros ou ter suas roupas costuradas enquanto dormia e afirmar que ‘quando você não tem muito o que fazer, é melhor não fazer nada’.

O filme, apesar de ter sido um sucesso também recebeu muitas críticas à época, principalmente de historiadores que retorceram o nariz para a figura correspondente ao nosso imaginário, de Dom João. Segundo os especialistas, ele era um estadista e não deveríamos lembra-lo com deboche.

Por fim, a pedida para o bom humor neste sete de setembro está no Brasil, retratado com um local exótico, que se tornou palco para personagens caricatos, que sim, brincaram com a linha do tempo, no entanto, são indiscutivelmente uma cópia do que continuamos a ver como nação. Corrupção, roubos, palhaçada, mas também a arte de fazermos muito com tão pouco.


Sobre o cineasta

O cineasta brasileiro Daniel Bydlowski é membro do Directors Guild of America e artista de realidade virtual. Faz parte do júri de festivais internacionais de cinema e pesquisa temas relacionados às novas tecnologias de mídia, como a realidade virtual e o future do cinema. Daniel também tenta conscientizar as pessoas com questões sociais ligadas à saúde, educação e bullying nas escolas. É mestre pela University of Southern California (USC), considerada a melhor faculdade de cinema dos Estados Unidos. Atualmente, cursa doutorado na University of California, em Santa Barbara, nos Estados Unidos. Recentemente, seu filme Bullies foi premiado em NewPort Beach como melhor curta infantil, no Comic-Con recebeu 2 prêmios: melhor filme fantasia e prêmio especial do júri. O Ticket for Success, também do cineasta, foi selecionado no Animamundi e ganhou de melhor curta internacional pelo Moondance International Film Festival.