Nesta segunda-feira, 4, a Globo transmitirá o live-action de 'Mulan', de 2020; confira a verdadeira lenda milenar da guerreira chinesa!
Éric Moreira Publicado em 04/03/2024, às 13h30 - Atualizado em 08/03/2024, às 19h09
Na última segunda-feira, 4, a TV Globo exibiu, durante a Sessão da Tarde, o live-action de 'Mulan'. Lançado em 2020, o filme é uma versão atualizada da clássica e tão amada animação de 1998 da Disney, que acompanha uma jovem chinesa que decide lutar no exército ao se disfarçar de homem, no lugar de seu pai.
"Hua Mulan é a espirituosa e determinada filha mais velha de um honrado guerreiro. Quando o Imperador da China emite um decreto que um homem de cada família deve servir no exército imperial, Mulan decide tomar o lugar de seu pai, que está doente. Assumindo a identidade de Hua Jun, ela se disfarça de homem para combater os invasores que estão atacando sua nação, provando-se uma grande guerreira", explica a sinopse do live-action.
Embora o filme seja mais conhecido por ser uma versão live-action da animação de 1998, a verdade é que a história de Mulan já repercute na China há séculos, sendo ela uma guerreira mencionada em lendas milenares. Confira a seguir as origens e a verdadeira lenda de Mulan:
+ A verdade por trás da lenda de Mulan, a maior guerreira da China
Segundo o Ancient Origins, alguns detalhes sobre a história original de Mulan não são conhecidos, no entanto, sabe-se que ela se origina do século 4 ou 5 d.C. Vale mencionar também que o nome Hua Mulan pode ser compreendido como "flor de magnólia" ("Huā" significa "flor", e "Mùlán" significa "magnólia"), um importante símbolo da China desde o passado.
A fonte original da história de Mulan é uma canção folclórica chamada 'A Balada de Mulan', datada da Dinastia Wei do Norte (que se deu entre os anos 286 e 557), e sua transcrição mais antiga conhecida é do século 6. Porém, este texto se perdeu com o tempo, e, atualmente, a referência é a coleção 'Music Bureau', uma antologia de letras, canções e poemas compilados por Guo Maoqian entre os séculos 11 ou 12.
Depois disso, Mulan também seria mencionada em lendas no final da Dinastia Ming (1368 - 1644), quando, em 1593, o artista Xu Wei dramatizou a lenda 'A Mulher Mulan', ou 'A Heroína Mulan Vai à Guerra no Lugar de Seu Pai', uma peça dividida em dois atos.
A última versão memorável, por fim, foi incorporada ao Romance Sui-Tang, escrito por Chu Renhuo no século 17. Como se pode perceber, por mais de um milênio, a lenda de Hua Mulan foi recontada e permaneceu viva na memória da China.
A 'Balada de Mulan' mais antiga conhecida consiste em 31 dísticos — estrofes de apenas dois versos —, compostos principalmente por frases de cinco caracteres. Embora a lenda tenha sofrido uma série de alterações com o tempo, sua base é sempre a mesma.
Enquanto lavava roupa, a jovem Mulan descobre que o exército recrutava novos soldados para lutar contra povos invasores. Para salvar seu pai, Huan Hu, um homem velho e doente que, com certeza, morreria ao entrar em batalha, ela decidiu se disfarçar de homem para alistar-se em seu lugar.
Em seguida, Mulan partiria para o campo de batalha levando consigo a espada dos ancestrais da família. E ela permaneceria lutando por cerca de dez ou doze anos, conquistando grandes méritos e até mesmo sendo promovida ao cargo de general, com o tempo.
Durante a guerra, ela conheceu um oficial, normalmente chamado de Jin Yong nas lendas, por quem se apaixonou. Algumas lendas dizem que depois que ele descobriu que Mulan era uma mulher, os dois ficaram apegados e até mesmo sonharam em se casar. E, eventualmente, os demais combatentes também descobririam a verdadeira identidade de Mulan.
Certa vez, antes de uma batalha muito difícil, ela teria decidido entrar em campo vestindo roupas femininas, para que finalmente todos os seus soldados percebessem quem ela realmente era. Nessa situação, seus soldados ficaram inspirados, e Mulan conquistou grande respeito e admiração, por sua bravura, graça e sabedoria. Assim, levou seu exército a mais uma vitória.
Após mais um triunfo heroico, o próprio imperador da China decidiu que queria recompensar Mulan, e ficou extremamente surpreso ao notar que o mais corajoso de seus soldados era uma mulher. Porém, ela não lhe pediu nada além de um cavalo, para que pudesse, finalmente, voltar para casa.
No entanto, ao contrário do final feliz que as novas versões adotam, muitas variações da história dizem que, quando ela retornou, descobriu o falecimento de seu pai. Além disso, também é frequentemente dito que ela ficou assombrada por suas experiências do campo de batalha e, sentindo-se solitária e incompreendida, cometeu suicídio. Como era de se esperar, isso não entrou na história adaptada pela Disney.
Tradicionalmente, a história de Mulan se situa na época da Dinastia Wei do Norte (386 - 534); porém, muitos detalhes de sua história só foram adicionados na Dinastia Tang, por volta do ano 620. Em 621, o fundador dessa dinastia teria vencido outros dois monarcas, Wang Shichong e Dou Jiande, e, nessa época, a história de uma mulher guerreira também teria se espalhado.
Vale mencionar que, entre os séculos 4 e 5, a China sofria com uma série de invasões de um grupo nômade. Nesse contexto, a guerra era terrível e assolava pessoas de todo o império, e a figura de uma mulher guerreira teria inspirado os soldados a seguir em batalha.
Além disso, vale mencionar que na região onde hoje estão a Mongólia, a Mongólia Interior e o nordeste da China vivia o povo Xianbei. Em descobertas arqueológicas, foram encontrados três esqueletos de mulheres relacionadas a esse povo, das quais, pelo menos, duas podem ter sido guerreiras, que provavelmente andavam frequentemente a cavalo e usavam arco e flecha, além de altamente treinadas em artes marciais e artesanato de guerra.
De qualquer forma, não se sabe se a história de Mulan é realmente inspirada ou não em uma figura real, mesmo que uma boa parte do povo chinês pense que sim; porém, isso pouco importa. Hoje ela é eternizada na cultura da China como um símbolo de bravura e honra, e seja real ou apenas uma lenda, ela sempre será uma imagem de inspiração.
