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Desventuras / Anne Frank

Peter Schiff: O grande amor de Anne Frank

Em seu diário, Anne Frank descreve os sentimentos que nutria por Peter Schiff: "entrou na minha vida e foi minha primeira paixão"; mas o que aconteceu com ele?

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 13/01/2024, às 00h00 - Atualizado em 19/01/2024, às 17h58

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Anne Frank - Domínio Público
Anne Frank - Domínio Público

"O Peter era um lindo rapaz, alto, esbelto, bem feito, com uma cara calma, séria e inteligente. Tinha cabelo escuro, a pele tostada, grandes e belos olhos castanhos e um nariz afilado. O que eu mais gostava nele era o sorriso que lhe dava um ar de ousado". 

É dessa maneira que, na passagem de sexta-feira, 7 de janeiro de 1944, Anne Frank descreve em seu diário aquele que "entrou na minha vida e foi minha primeira paixão". Ela falava de Peter Schiff

Peter Schiff, o amor de Anne Frank - Museu Anne Frank

Durante anos a jovem judia foi apaixonada por Peter — não confundir com Peter van Pels, que viveu com a família de Frank durante anos no Anexo Secreto. Ela o viu pela primeira vez na escola, em 1940, e eles foram "inseparáveis" durante um verão inteiro, quando andaram de mãos dadas pelo bairro deles em Amsterdã. 

Ainda nos vejo de mãos dadas correndo pelas ruas, ele com um terno de linho, eu com um vestido de verão", relatou Frank

Quase três anos mais velho que Anne, conforme explica o The Guardian, Peter Schiff raramente deixava os pensamentos da jovem durante os dois anos em que ela esteve escondida. 

+ Quando 'O Diário de Anne Frank' foi lido antes de partidas do futebol italiano;

Não tenho dele nenhuma fotografia, nem é preciso, pois o tenho bem gravado na memória! Como é bom e simpático". 

Paixão inesquecível

Com uma história de bravura e coragem, a judia continua inspirando até hoje milhares de pessoas quem leem O Diário de Anne Frank. Além dos detalhes e informações sobre a Europa ocupada, a obra também cativa por mostrar a transição da garota brilhante para sua fase adulta — nos mostrando o amadurecimento e todos os desafios que isso traz. 

O Diário de Anne Frank também mostra frustrações e inseguranças; e seus desejos românticos e paixões que se tornaram atemporais e universais. Muitas vezes, Frank narra como seus pensamentos são um misto de ciúmes e dúvidas, nutridos pela lembrança de Schiff

O Diário de Anne Frank/ Crédito: Getty Images

"Hoje de manhã acordei às sete horas e lembrei-me nitidamente do que sonhei. Estava sentada à mesa, em frente do Peter… folheávamos um livro ilustrado. O sonho tinha sido tão nítido que até ainda me lembro das gravuras. Mas não acabou aqui. Os nossos olhares se encontraram e eu via os olhos de Peter, tão belos, de um castanho aveludado. Depois o Peter disse, baixinho e carinhosamente: 'se eu soubesse, já teria te procurado há mais tempo'".

"Afastei-me abruptamente, dominado pela emoção. E então eu senti uma bochecha macia, tão fria e gentil contra a minha, e foi tão bom, tão bom", prosseguiu. 

Quando acordou, ela ainda podia sentir o rosto dele contra o seu, e seus olhos "olhando profundamente no meu coração". Ela acreditava que Peter sabia o quanto ela o amava "e o quanto eu ainda o amo".

Em seu diário, Anne ainda revelou um apelido que criou para o amado: Petel. Em 7 de janeiro de 1944, ela narrou que, ao acordar recebendo um beijo de seu pai, desejava que fosse Peter que a despertasse. "Ai se fosse o Peter".

Eu simplesmente tenho que continuar vivendo e orando a Deus para que, se algum dia sairmos daqui, o caminho de Peter cruze o meu. Então, ele vai ler em meus olhos que o amo". 

"Certa vez, quando meu pai e eu estávamos conversando sobre sexo, ele disse que eu era jovem demais para entender esse tipo de desejo. Mas pensei que entendia, e agora tenho certeza que sim. Nada é tão querido para mim agora quanto meu querido Petel!". 

O amor que dói

Apesar de todas as demonstrações de afeto, Anne Frank explicou que acabou se decepcionando por Peter. "Passei as férias fora. Quando voltei, Peter tinha mudado de casa". 

Segundo relata, um rapaz mais velho passou a viver na casa. "Este rapaz deve ter feito ver que eu não passava de uma criança, e o Peter não quis mais saber de mim. No começo, nem queria acreditar, gostava tanto dele. Tive de me conformar, pois, se fosse a andar atrás dele, diriam que sou maluca".

Frank, ainda, aponta que tentou esquecer de Schiff, mas não foi capaz. "Há um provérbio que diz: 'O tempo cura todos os males'. Era assim mesmo, e eu imaginava que ia me esquecer do Peter e já nem gostava dele. Mas a recordação vivia tão forte em meu subconsciente que, um dia, tive de confessar a mim mesma o ciúme que sentia de todas as garotas do seu círculo".

 Hoje de manhã vi que nada mudou. À medida que os anos iam passando e eu me desenvolvia, o amor pelo Peter crescia em mim. Compreendo que ele tenha me achado infantil, mas não posso deixar de sentir uma certa dor por ter me esquecido tão depressa". 

Figura revelada

Durante anos, nenhum registro fotográfico de Peter havia sido encontrado. Somente após 60 anos, esse mistério foi revelado. Em 2008, Ernst Michaelis, ex-colega de escola de Schiff, doou ao Museu Anne Frank uma foto que tinha do amigo. 

Ao The Guardian, na época, Ernst, então com 81 anos, apontou que as memórias que tinha de Peter Schiff ainda era vivas: "Sempre tive uma sensação de alegria por estar com ele".

Ernst Michaelis segurando foto de Peter Schiff - Museu Anne Frank

"Quando menino, eu gostava de fazer coisas e tinha ferramentas simples para trabalhar madeira e mais tarde um kit de construção de metal. Brincamos com isso juntos. Eu também tinha um modelo ferroviário muito grandioso e provavelmente brincamos com ele também. Tínhamos 11 ou 12 anos. Nunca fiquei entediado na companhia dele — sempre gostei de pessoas cheias de ótimas ideias, e ele tinha", prosseguiu.

Nascido em Berlim, em 1926, Michaelis recordou que se sentiu confortável ao estar ao lado de Peter no dia seguinte à Kristallnacht, A Noite dos Cristais, em novembro de 1938. "Ele era um menino inteligente, e acho que deve ter sido por isso que ele gostava de Anne — ela tinha uma mente viva". 

Você tem a impressão, pelas menções dela a ele, de que tudo tinha a ver com a aparência, mas tenho certeza de que ela ficaria entediada com ele se ele fosse estúpido", prosseguiu. 

Michaelis e Schiff se viram pela última vez no verão de 1939, quando Ernst foi para a Inglaterra através do Kindertransport. O destino do colega, porém, é mais incerto. 

Conforme aponta o The Guardian, Peter Schiff deve ter passado muitos meses escondido e, após a captura, acredita-se que desobedeceu às ordens de se juntar a uma unidade de trabalhos forçados em Amsterdã.

Tido como criminoso, ele foi levado para o campo de Westerbork e de lá para Bergen-Belsen e, provavelmente, Auschwitz. A data de sua morte é desconhecida, embora esteja inscrita nos livros de registro em 31 de maio de 1945.