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História mostra relação entre infecções virais e doenças cerebrais

Enfermidades que envolvam infecções virais nas vias respiratórias não é algo totalmente inédito para a humanidade

Fabiano de Abreu* Publicado em 26/09/2021, às 08h00

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Imagem meramente ilustrativa - Imagem de cromaconceptovisual por Pixabay
Imagem meramente ilustrativa - Imagem de cromaconceptovisual por Pixabay

Voltando à pandemia da Gripe Espanhola, em 1917, é importante lembrar que entre 50 e 100 milhões de pessoas perderam a vida. Só que, dentre aquelas que se salvaram, várias delas carregaram para o resto da vida uma sequela, que na época recebeu o nome de encefalite letárgica.

Essa enfermidade causou uma série de distúrbios motores, com o comprometimento muscular bem parecido com aqueles que são portadores da Doença de Parkinson, além de sofrer com distúrbios psiquiátricos ao longo de toda a vida.

Quarenta anos depois, um novo surto trouxe preocupação em todo o mundo, recebendo o nome de gripe asiática. O vírus se desenvolveu no norte da China e avançou para Ásia, Oceania, África, Europa e Estados Unidos.

Em 10 meses, se espalhou por todo o mundo, vitimando dois milhões de pessoas. Em relação aos que foram contaminados e se salvaram, mais uma vez tiveram que enfrentar as doenças cerebrais.

Tanto é que naquele período houve relatos de pessoas que apresentaram distúrbios parecidos com Parkinson ou tiveram problemas psiquiátricos graves. Sintomas como esse também foram observados após a síndrome respiratória do oriente médio e também na pandemia de H1N1, em 2009.

Agora, com quase dois anos em que o mundo ainda sofre os impactos da Covid-19, a comunidade científica já vem observando alguns sintomas que chamam a atenção. Há casos de pessoas que tiveram a doença na forma aguda e agora precisam tratar de crises epilépticas, apresentaram confusão mental e outros sinais de inflamação cerebral difusa.

Alguns até apresentaram quadro de AVCs, o que comprova este comprometimento na circulação cerebral. Há casos também de pessoas que sofreram lesões nos nervos periféricos, causando uma fraqueza muscular profunda. Além disso, os cientistas estão observando em suas pesquisas mais recentes que aqueles que foram contaminados com o novo coronavírus apresentam em geral um quadro de anosmia, que é algo muito frequente em doenças neurológicas e psiquiátricas, como Alzheimer e Parkinson, que é a perda do olfato.

Nesta ligação entre vírus e cérebro já foi demonstrado que, ao menos em algumas amostras, ele pode ser detectado no tecido cerebral de pessoas que morreram. Além disso, há também relatórios de autoanticorpos nessas pessoas, que não são uma consequência direta da invasão cerebral, mas sim uma resposta da imunidade anormal ao vírus voltada em primeiro lugar contra receptores neuronais, inclusive o receptor de glutamato do tipo NMDA que é comumente expressado por neurônios.

Ou seja, isso comprova que o vírus se instala dentro do cérebro e afeta a sua estrutura de modo semelhante ao que acontece com o Alzheimer. Exames de neuroimagem indicam que pessoas acometidas pela Covid-19 apresentam alterações morfológicas e funcionais na imagem por ressonância magnética cerebral no hipocampo e em outras estruturas que também estão associadas à doença de Alzheimer precoce.

A situação se agrava ainda mais quando se constata esses efeitos em pessoas idosas, o que comprova uma grande preocupação das autoridades sanitárias com este público em potencial.

Tem sido observado que pessoas idosas, ao superar o Covid-19, apresentaram problemas cognitivos, como casos de esquecimento frequente, problemas com a organização de tarefas sequenciais ou a chamada disfunção executiva.

Em casos mais graves, houve danos com relação à orientação espacial. Olhando para o futuro, creio que o melhor a ser feito é seguir os estudos pelos próximos anos, para que assim possamos entender como eventos ambientais interagem com os genes, como esses fatores genéticos também agem e quais serão os efeitos dessa doença no organismo nos próximos.


Fabiano de Abreu é PhD, neurocientista, mestre psicanalista, biólogo, historiador, antropólogo, com formações também em neuropsicologia, psicologia, neurolinguística, neuroplasticidade, inteligência artificial, neurociência aplicada à aprendizagem, filosofia, jornalismo e formação profissional em nutrição clínica - Diretor do Centro de Pesquisas e Análises Heráclito; Chefe do Departamento de Ciências da Logos University; Membro da Federação Européia de Neurociências e da Sociedade Brasileira e Portuguesa de Neurociências. Universidades em destaque: Logos University, Nova de Lisboa, Faveni, edX Harvard, Universidad de Madrid.