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Desventuras / Tutancâmon

Arqueólogo que descobriu tumba de Tutancâmon pode ter saqueado tesouros

Carta escrita pelo egiptólogo Alan Gardiner sugere que Howard Carter roubou o local após encontrá-lo

Isabela Barreiros Publicado em 17/08/2022, às 14h49 - Atualizado em 23/09/2022, às 09h22

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Howard Carter e o faraó Tutancâmon - Wikimedia Commons/Chicago Daily News/Divulgação/Harry Burton/Griffith Institute/Oxford University
Howard Carter e o faraó Tutancâmon - Wikimedia Commons/Chicago Daily News/Divulgação/Harry Burton/Griffith Institute/Oxford University

Howard Carter, arqueólogo responsável pela descoberta da tumba do faraó egípcio Tutancâmon em 1922, pode ter roubado tesouros durante o estudo do local. É o que indica uma carta escrita pelo egiptólogo inglês Alan Gardiner em 1934 endereçada a ele.

No texto, Gardiner sugere que Carter lidou com relíquias “sem dúvida roubada[s] da tumba”, saqueando o local antes mesmo de a tumba ser aberta oficialmente para posteriores pesquisas.

Como membro da equipe de escavação, o egiptólogo recebeu um pedido de Carterpara que traduzisse hieróglifos identificados no mausoléu. Em agradecimento, o arqueólogo deu a ele um “amuleto whm”, geralmente encontrado em oferendas aos mortos no Egito.

Embora Carter tenha assegurado a Gardiner de que o artefato não tinha origem na tumba do rei Tut, ele continuou desconfiado e decidiu pedir a opinião do então diretor britânico do Museu Egípcio do Cairo, Rex Engelbach.

Joias encontradas na tumba do rei Tut / Divulgação /Laboratoriorosso, Viterbo/Itália

A partir da análise do especialista, foi possível concluir que se tratava de um objeto roubado por ser similar a outros encontrados no local que possuíam o mesmo molde. Gardiner chegou nessa conclusão já naquela época.

Como reportou a revista Galileu, o egiptólogo anexou, na carta, o veredito de Engelbach sobre o roubo da relíquia, embora não tenha revelado quem teria sido o responsável pelo saque.

Eu naturalmente não disse a Engelbach que obtive o amuleto de você”, acobertou.

Escrevendo a correspondência, ele ainda lamentou ter sido colocado em “posição tão embaraçosa” ao receber de presente, de maneira desavisada, um artefato tão importante roubado da tumba do faraó.

Cartas de Gardiner

Carter, seu assistente Arthur Callender e outro trabalhador não identificado/ Divulgação/Harry Burton/Griffith Institute/Oxford University

Até então em coleção particular, as cartas escritas por Gardiner serão divulgadas ao público com a publicação do livro “Tutankhamon and the Tomb that Changed the World” (“Tutancâmon e a Tumba que Mudou o Mundo”, em tradução livre) em 27 de setembro.

A obra, escrita por Bob Brier, um dos maiores nomes da egiptologia da Universidade de Long Island, nos Estados Unidos, promete contar a história dos saques de Carter a uma das descobertas arqueológicas mais importantes de todos os tempos.

Brier explica que existem muitos rumores sobre o arqueólogo ter roubado relíquias da tumba. “Mas agora não há dúvida sobre isso”, ressaltou o autor em entrevista ao The Observer.

No livro, o escritor também descreve o período após a identificação da tumba, quando Carter foi responsável por supervisionar o transporte dos tesouros para uma exibição no Museu Egípcio, no Cairo.

Durante a remoção dos artefatos, porém, o especialista se tornou suspeito quando Alfred Lucas, um de seus funcionários, relatou a uma revista científica egípcia que tinha visto o chefe abrindo a porta da câmera funerária em segredo antes de parecer fechá-la.

Ainda que nunca tenha admitido culpa no crime de roubo e nem que as autoridades egípcias tenham conseguido provas no caso, a verdade é que Carter foi afastado do projeto, tendo sua entrada proibida na tumba pelo governo do Egito.

Havia muito mau pressentimento, e eles [governo egípcio] pensaram que ele [Carter] estava roubando coisas”, explicou Brier.

Um objeto que o governo egípcio estava convencido de que o arqueólogo estava tentando roubar era uma cabeça de madeira do faraó menino. Isso porque o item nunca foi mencionado nos registros dele, mas ainda estava completamente embalado.

Ainda que ele não tenha conseguido saquear esse objeto especificamente, muitos outros foram levados, o que é possível atestar já que, décadas depois, inúmeras relíquias claramente vindas da tumba passaram a circular pelo mercado de antiguidades egípcias.

Muitas delas foram parar em museus ao redor do mundo. O Metropolitan Museum of Art de Nova York, nos Estados Unidos, por exemplo, declarou em 2010 que devolveria ao Egito 19 artefatos comprados entre os anos 1920 e 1940 que “podem ser atribuídos com certeza ao túmulo de Tutancâmon”.