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Desventuras / Ditadura

Há 38 anos, Tancredo Neves era eleito o primeiro presidente do país após queda da Ditatura

Após memoráveis comícios pelas Diretas Já, uma série de eventos culminaram da queda do regime militar e na eleição do político mineiro

Tiago Cordeiro, arquivo Aventuras na História Publicado em 24/08/2022, às 16h06 - Atualizado em 13/01/2023, às 15h00

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O veículo em que estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado - Ricardo Chaves/Editora Abril
O veículo em que estavam o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado - Ricardo Chaves/Editora Abril

Na noite de 30 de abril de 1981, um show comemorativo do Dia do Trabalho reunia 25 mil pessoas no Pavilhão Riocentro, no Rio de Janeiro. Contudo, a festa foi interrompida por volta das 21h daquele dia, quando um estrondo foi ouvido em frente ao estacionamemento do evento.

Lá estava um carro, modelo Puma, ocupado por dois militares: o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o capitão Wilson Dias Machado, completamente desfigurados após uma explosão que ocorreu dentro do veículo.

Eles manuseavam uma bomba, que seria instalada dentro do edifício da apresentação, mas explodiu antes da hora. O sargento morreu e o capitão ficou gravemente ferido. A poucos quilômetros dali, outra explosão. O alvo era a miniestação elétrica que fornecia energia para o evento, mas a bomba, jogada por cima do muro, estourou no pátio, sem causar danos ao fornecimento de energia.

A versão oficial, de que o atentado era obra de radicais de esquerda, foi desacreditada
desde o primeiro momento. Meses antes, em 27 de agosto de 1980, uma cartabomba enviada à sede da Ordem dos Advogados do Brasil matou Lyda Monteiro da Silva. Ela era secretária do então presidente da entidade, Eduardo Seabra Fagundes.

Hoje sabe-se que essas foram duas das últimas tentativas de setores mais radicais do governo de convencer os moderados da necessidade de uma nova onda repressiva – nesse mesmo período, várias bancas que vendiam jornais de esquerda foram incendiadas e o jurista Dalmo Dallari foi sequestrado e espancado.

O carro, destruído após o atentado no Riocentro / Crédito: IPM via Comissão Nacional da Verdade (CNV)

A onda de atentados não teve efeito político. Quando a bomba foi detonada antes da hora no Riocentro, o Brasil já não tinha apenas os dois partidos permitidos pelos militares.

Contexto político

Novas legendas de oposição (PMDB, PDT, PT, PTB) se organizavam. E se preparavam para vencer as eleições estaduais diretas de 1982 no Rio de Janeiro, com Leonel Brizola, em Minas Gerais, com Tancredo Neves, e em São Paulo, com Franco Montoro.

A ditadura e seu partido de apoio, a antiga Arena, agora chamada PDS, tomaram uma goleada de votos nos principais estados do país. O regime militar demoraria um pouco para cair de vez. Em 1979, o último general a assumir o governo federal, João Figueiredo, prometera “prender e arrebentar” quem fosse contra a abertura política, mas em
25 de abril de 1984 o general Newton Cruz, comandante militar do Planalto, ainda usaria um chicote para enfrentar o buzinaço de manifestantes que pediam eleições.

Quem lançou a ideia das Diretas Já foi o senador Teotônio Vilela (1917-1983), em entrevista ao programa Canal Livre, da TV Bandeirantes. Dias depois, em 31 de março
de 1983, o município de Abreu e Lima, em Pernambuco, recebeu a primeira manifestação pública pelo direito de votar para presidente.

Em junho, foi a vez de Goiânia. Em novembro, de Curitiba e São Paulo. Até 16 de abril de 1984, quando 1,5 milhão de pessoas saiu caminhando da Praça da Sé até o Vale do
Anhangabaú, em São Paulo, foram pelo menos 40 passeatas, que se estenderam
de Porto Alegre a Olinda, de Belém a Uberlândia.

O famoso comício de 16 de abril de 1984 levaria ao palanque personalidades como Ulysses Guimarães, Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso e Luís Inácio Lula da Silva– o deputado Dante de Oliveira (1952-2006), autor da emenda pela eleição direta, só entrou porque a cantora Fafá de Belém disse aos policiais que ele era percursionista de sua banda.

Enquanto isso, na TV, o presidente Figueiredo declarava que tais manifestações
eram subversivas. Esses comícios também contavam com a participação de celebridades
de diversas áreas.

A emenda foi derrotada no Congresso, e o Brasil teria que esperar até 1989 para votar para presidente. Em compensação, o Colégio Eleitoral, que antes apenas carimbava o nome escolhido pelos generais, elegeria o primeiro civil a governar o país desde 1964 – e o vencedor seria o oposicionistaTancredo Neves.