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Desventuras / Mona Lisa

Primeira classe, vigilância e caixa especial: Como foi a viagem da Mona Lisa para os EUA

Promovida por Jacqueline Kennedy, então primeira-dama dos EUA, a 'visita' da Mona Lisa envolveu uma operação complexa

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 01/11/2023, às 18h00

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André Malraux, Jacqueline Kennedy, John Kennedy e Madeleine Malraux no National Gallery of Art para a exposição de Mona Lisa - John F. Kennedy Presidential Library and Museum
André Malraux, Jacqueline Kennedy, John Kennedy e Madeleine Malraux no National Gallery of Art para a exposição de Mona Lisa - John F. Kennedy Presidential Library and Museum

35º presidente da história dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy é um dos mais populares chefes de Estado norte-americano de todos os tempos. Nem mesmo seu trágico assassinato, em 22 de novembro de 1963, apagou seu legado e o fez deixar de ser amado e admirado no país.

Embora tenha fracassado na Invasão da Baía dos Porcos, Kennedy controlou com maestria a Crise dos Mísseis em Cuba. Ele também foi importante personagem na luta pelos Direitos Civis — apoiando grandes nomes da causa, como Martin Luther King Jr.

A vida pessoal também se tornou tópico de discussão por sua extensa lista de amantes, que coleciona possíveis nomes como Audrey Hepburn e, a maior de todas, Marilyn Monroe. Apesar das traições, sua esposa, a primeira-dama Jackeline Kennedy, sempre foi um de seus pilares.

+ “Os melhores 7 minutos da minha vida”: A intensa vida amorosa de JFK

John e Jacqueline Kennedy com sua esposa e seus filhos, John Jr. e Caroline/ Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Jackie não só consentiu com as 'puladas de cerca' de John, como ajudou a perpetuar seu legado. Um fato que poucos lembram, aliás, é que a primeira-dama é responsável por um dos maiores fervores artísticos dos Estados Unidos. 

Amante da arte

Jacqueline Kennedy tinha apenas 31 anos quando se mudou para a Casa Branca — o mandato de JFK começou oficialmente em 3 de janeiro de 1961. Jackie entendia que a residência oficial do presidente deveria ser uma amostra da herança cultural da América.

Conforme recorda a Galerie Magazine, a primeira-dama foi fundamental para que o Congresso declarasse o endereço um museu naquele mesmo ano. A partir daí, ela passou a trabalhar pela reforma completa da Casa Branca, o que culminou com uma visita televisiva ao local em fevereiro de 1962.

Jacqueline aproximava o povo do maior símbolo de poder de seu país; Kennedy se tornava apenas 'um cidadão' que havia ascendido ao cargo mais importante do mundo. A população norte-americana o via como uma figura familiar e humanizada.

Jackie não pararia por aí. Sua paixão pela arte surgira há tempos. Em seu primeiro ano na Casa Branca, passou a visitar regularmente a Galeria Nacional de Arte, então dirigido por seu amigo de longa data John Walker — que chegou a ceder duas pinturas de Cézanne para a nova Sala Verde, que logo se tornou o destaque do salão presidencial.

Mas seu desejo mais ousado surgiu quando Kennedy visitou Paris para se encontrar com o presidente Charles de Gaulle. Como de praxe, a primeira-dama o acompanhou, afinal, também tinha um interesse pessoal na visita à Cidade Luz: conhecer André Malraux, autor de 'A Condição Humana', então ministro da Cultura da França.

Malraux acompanhou Jackie por seus passeios pela capital parisiense. O Galerie Magazine aponta que o ministro ficou encantado com o conhecimento da primeira-dama na rica história cultural de seu país. Em seu último jantar na cidade, ela lhe confidenciou o desejo de levar Mona Lisa para os Estados Unidos, numa visita. O ministro prometeu pensar com carinho na ideia.

Do Louvre para a América

Em dezembro de 1962, o sonho de Jacqueline Kennedy se tornou realidade. Mona Lisa, um dos quadros mais emblemáticos do mundo, desembarcou nos Estados Unidos para exibições na National Gallery e depois no Metropolitan Museum of Art de Nova York.

A passagem é relembrada por Bill O'Reilly e Martin Dugard em 'Os últimos Dias de John F. Kennedy' (L&PM Edições). "Não é a primeira vez que a Mona Lisa deixa sua casa. Napoleão já chegou a pendurá-la em seu próprio quarto, para admirá-la a cada manhã. Em 1911, o quadro foi roubado do Louvre e só devolvido ao museu parisiense dois anos depois. Ela foi transferida em várias ocasiões durante a Segunda Guerra Mundial para não cair nas mãos dos nazistas. E agora, Jackie trouxe a obra-prima de Leonardo da Vinci para os Estados Unidos, onde a 'Mona Mania' está prestes a se alastrar".

+ Em 1911, a Mona Lisa foi roubada

Pessoas visitam Mona Lisa nos EUA/Crédito: John F. Kennedy Presidential Library and Museum

Ao todo, quase dois milhões de pessoas visitaram a obra-prima de Leonardo da Vinci. Muitos norte-americanos, aliás, cruzaram o país e esperaram horas nas filas por isso. Jacqueline Kennedy havia criado um clamor pela arte que poucas vezes havia se visto na história americana. Mas nada disso foi fácil.

Segurança Nacional

O'Reilly e Dugard recordam que John Walker foi contra o empréstimo da obra, pois, temia por sua carreira caso não conseguisse proteger a Mona Lisa como deveria. Para chegar aos Estados Unidos, aliás, a frágil pintura de cerca de 460 anos teve que realizar uma viagem transoceânica no meio do inverno.

"O trabalho de Walker ficou muito mais fácil quando JFK ordenou que os guarda-costas mais bem-treinados do mundo vigiassem a preciosa obra de arte — ninguém menos do que os mesmos homens dispostos a levar uma bala para proteger a vida do presidente: o Serviço Secreto", apontam os autores.

John F. Kennedy, Madeleine Malraux, André Malraux, Jacqueline Kennedy e Lyndon B. Johnson no National Gallery of Art para a exposição de Mona Lisa/ Crédito: National Archives and Records Administration

Bill e Martin descrevem na obra que a Mona Lisa foi transportada até os Estados Unidos em uma cabine de primeira classe a bordo do SS France, sendo vigiada por agentes franceses 24 horas por dia.

Viaja de navio em vez de avião para evitar o risco de uma queda, que destruiria a obra para sempre. Se o transatlântico de luxo naufragar, a caixa especial de metal que abriga a Mona Lisa foi projetada para flutuar", detalham na obra.

Para manter a segurança da carga, somente o capitão do SS France sabia que a embarcação transportava um dos maiores quadros da história da arte. "A segurança é tão estrita que os hóspedes especulam se a caixa de metal contém uma arma nuclear secreta".

Quando a pintura de Da Vinci chegou à América, especificamente em Nova York, foi levada até Washington por um comboio especial do Serviço Secreto — que mais uma vez optou por uma viagem de carro (que durou quatro horas) em detrimento do avião.

Além disso, franco-atiradores estiveram posicionados em telhados ao longo do caminho; já o agente John Campion viajou pessoalmente ao lado do quadro no furgão preto da Galeria Nacional de Arte. "O veículo é equipado com molas resistentes para amortecer os impactos da estrada que poderiam fazer partículas pigmento se desprenderem da tela", narram os autores.

Ao chegar na capital, Mona Lisa foi trancada atrás de portas de aço em uma caixa-forte climatizada — que mantém sua temperatura a exatos 16,7 graus. Caso ocorresse uma falha na eletricidade, um gerador reserva entraria em ação.

Em 08 de janeiro de 1963, John F. Kennedy discursou na National Gallery of Art durante a abertura da exposição de Mona Lisa: "A política e a arte, a vida da ação e a vida do pensamento, o mundo dos acontecimentos e o mundo da imaginação são um só".

Em 'Os últimos Dias de John F. Kennedy', Bill O'Reilly e Martin Dugard apontam que a ida da pintura de Da Vinci aos Estados Unidos tornou os Kennedy mais populares do que nunca.

O fato também os aproximou como casal: "Kennedy parece menos interessado em outras mulheres. Os amigos viram a relação dos dois se afastar da formalidade profissional que marcou os dois primeiros anos de JFK no poder. Há uma nova ternura no tempo que passam juntos e, no modo como eles falam um com o outro, uma transformação que os tornou o primeiro-casal mais poderoso da história".

"Em seu discurso, o presidente associa, com brilhantismo, a Mona Lisa e a política da Guerra Fria, mas é Jackie quem orquestra cada detalhe desta noite tão especial. A Mona
Lisa pode ser deslumbrante — mesmo escondida atrás do vidro à prova de balas —, mas, em média, os convidados ficam apenas quinze segundos observando a pintura, enquanto alguns passam a noite toda olhando para Jackie. Sua beleza, desenvoltura, graça e glamour são inigualáveis. Esta noite, é a primeira-dama, e não a Mona Lisa, que domina a cena", finalizam.