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Chernobyl: o extermínio do passado e futuro

Em 15 de dezembro, 21 anos atrás, era desligado o último reator da usina que causou o chocante acidente nuclear

Daniel Bydlowski, cineasta Publicado em 11/12/2021, às 09h00

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Cena da série Chernobyl da HBO (2019) - Divulgação/HBO
Cena da série Chernobyl da HBO (2019) - Divulgação/HBO

Em abril de 1986, o que era para ser um teste de segurança normal no reator quatro da usina de Chernobyl saiu muito errado. Começava ali, o extermínio de um passado e, também, de um futuro.

Ao menos para toda a população da região próxima à Pripyat, no norte da Ucrânia Soviética, onde se localizava a usina. Um levantamento da ONU, feito em 2015, relatou que cerca de 4 mil pessoas sofreram graves problemas de saúde após terem sido expostas a radiação. Além da morte dos 30 trabalhadores que morreram durante a explosão.

Divulgação/HBO

Portanto, qualquer pessoa que conheça o mínimo sobre Chernobyl, sabe o significado do desligamento do último reator da usina, 14 anos após o acidente, e apesar das autoridades terem tentado incansavelmente esconder o tamanho da tragédia, há meios de se inteirar sobre o assunto, bem como conhecer os protagonistas dessa assombrosa narrativa.

A produção da HBO, criada por Craig Mazin e dirigida por Johan Renck certamente é essencial para contar essa assombrosa história. Interpretada por grandes nomes como Jared Harris no papel de Valery Legasov - o primeiro físico soviético a perceber os fatos; Stellan Skarsgard como Boris Shcherbina - vice-presidente do Conselho de Ministros; e Emily Watson como a física nuclear de Minsk, Ulana Khomyuk, a série apresenta a história de homens e mulheres que de alguma forma se envolveram com o acidente, e alguns heroicamente ou não, tentaram mitigar os catastróficos danos.

Logo no primeiro episódio da série que foi dividida em cinco capítulos, conhecemos muitos dos personagens envolvidos no teste que resultou no acidente. De trabalhadores inexperientes e desinformados à liderança abusiva e incompetente, é possível começar a entender o que deu errado.

Mas são as cenas dos bombeiros correndo para apagar as chamas da explosão, totalmente inocentes de que estão indo de encontro a morte e dos funcionários do governo buscando desculpas, que percebemos o tamanho da tragédia que estava por vir.

Divulgação/HBO

No entanto, o foco de Chernobyl está na verdade nos eventos que aconteceram após o incidente e na magnitude humana de cada personagem dessa jornada. Ao observar um grafite do lado de fora do prédio da usina, Legasov soube que houve a explosão do núcleo e apesar das negativas dos funcionários corre para tentar conter um desastre ainda maior.

Com o medo iminente de novas explosões e de que a radiação poderia contaminar o abastecimento de água da maior parte do país, muitos se doam ao sacrifício de salvar milhões. A particularidade de como esses eventos se desenrolam é, sem dúvida, o grande destaque da produção e roteiro, aclamada pela crítica em 2019 e que faturou 19 indicações ao Emmy Awards e três prêmios de “Melhor Direção”, “Melhor Roteiro” e “Melhor Minissérie” e “Melhor Figurino”, “Melhor Direção de Ficção”, “Melhor Edição de Ficção”, “Melhor Música Original”, “Melhor Fotografia e Iluminação de Ficção”, “Melhor Design de Produção” e “Melhor Som de Ficção” no prêmio BAFTA de cinema

Entre muitas cenas majestosas, há aquelas que permeiam quase todos os sentidos possíveis de emoção da sétima arte, como a que o personagem de Barry Keoghan, Pavel, sai em uma caçada para matar todos os cachorros que permaneceram nas cidades vizinhas após a evacuação.

Se analisarmos bem a série, não sabemos exatamente onde toda a verdade começa, ou quais são os pontos exatos da ficção, uma vez que produzir um material baseado em fatos reais, como esse, é extremamente difícil, pois não há acesso à verdade completa, se é que ela existe.

São muitas narrativas, de muitos ângulos e, além disso, existem os fatores cinematográficos com a construção de estratégias para tornar uma tragédia em entretenimento, para que seja possível cativar o público.

Porém, existem alguns fatos mais fáceis de entender se são ou não verídicos:

1. A verdade sobre Chernobyl relatadas em fitas de VHS por Legasov existiram, porém não havia falas tão icônicas como a que Mazin levou ao documentário.

2. A morte do físico também foi retratada de forma real, mas a versão de que o suicídio aconteceu na hora exata da explosão, talvez possa ser um elemento ficcional.

3. Por outro lado, os detalhes da cenografia foram produzidos com sucesso, cada uniforme, cada painel de controle, entre outras composições.

4. O discurso de Zharkov, interpretado por Donald Sumpter, é ficcional, assim como o personagem foi criado apenas para ilustrar a questão da contenção de informações até que se tivesse o tamanho da dimensão do problema e, assim, evitar a desinformação;

5. Os voluntários que impediram o contato da água com o reator derretido, drenando em um ato heroico, não eram bem voluntários.

6. Ulana Khomyuk, magistralmente interpretada por Emily Watson, na verdade, não existiu. Ela é uma espécie de amálgama de pessoas que arriscaram suas vidas para conter o desastre.

Chernobyl oferece uma visão mais próxima da linha tênue entre o que pôde ou não ser feito, dos limites e obstáculos enfrentados por todos seus protagonistas, e dos meios e fins de uma história não tão reconhecida assim.