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Livro de romance LGBT+ retrata mudanças sociais causadas pela AIDS

Valdo Resende conta com exclusividade como a literatura brasileira aborda a AIDS

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 28/06/2023, às 19h05 - Atualizado em 29/06/2023, às 11h41

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Imagem ilustrativa de pessoas carregando bandeiras do movimento LGBT+ - Foto de naeimasgary, via Pixabay
Imagem ilustrativa de pessoas carregando bandeiras do movimento LGBT+ - Foto de naeimasgary, via Pixabay

A homossexualidade é assunto mais atual do que nunca, sendo retratada (além da realidade), em diversos tipos de produtos, tais como filmes, série e até mesmo livros. A fim de dar visibilidade a essa pauta, o autor Valdo Resende publicou um conto e um romance dentro da temática, o livro ‘Dois Meninos – Limbo’, que aborda sentimento, mudanças sociais e tabus históricos, é um deles.

A trama contra a história de um humilde pintor que escolhe elaborar uma produção popular, que visa fundamentalmente a sobrevivência através da comercialização dos resultados. A história se passa na grande São Paulo do final do século 20, trazendo à tona a vida operária e também o surgimento da AIDS, e decorrentes dessa realidade, as profundas mudanças e exigências impostas à sociedade.

Capa do livro '‘Dois Meninos – Limbo’ - Crédito: Editora Elipse, Artes e Afins

Quase 10 anos após o lançamento da obra, a temática do livro continua mais atual do que nunca. Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, o autor da obra explicou como surgiu a ideia da publicação do livro.

“O mercado não facilita e não está aberto para temas como a AIDS e a homossexualidade. Ouvi muitos nãos. A sensação que eu tinha em relação ao tempo era difícil, pois entre a ideia e a publicação foram cerca de dez anos. Todavia, era louco perceber que o tema continuava atual, embora os avanços da medicina dessem novas perspectivas às pessoas portadoras do vírus. Também ia acontecendo mudanças tímidas na sociedade em relação aos LGBTQIA+”, conta.

"Publicar, todavia, foi um risco. De não vender, o lado prático e, também, o fato de assumir um possível estigma ao escrever sobre o tema. Preferi assumir os riscos”.

Os personagens e a sociedade

Segundo o autor, os personagens foram baseados em pessoas de seu convívio, mas que não pediu autorização para isso. Ele não usou seus nomes verdadeiros, o que facilitou esse quesito. “São pessoas sem grande poder aquisitivo, sem poder político, sem grandes forças na escala social”, disse Resende.

Valdo ainda comenta sobre a visão social de pessoas que tiveram AIDS, principalmente quando se trata de diferentes condições econômicas: “O Brasil viu todo o processo de tratamento de pessoas como o Cazuza, por exemplo. Mas, e os que não tinham o dinheiro que ele tinha? Como eram, e como são ainda hoje, as formas de tratamento no sistema público? As relações sociais atualmente são baseadas em tolerância que, além de avanços, foi imposta por lei”.

O escritor, que se definiu como um observador do mundo, relatou um momento presenciado por ele em 1984, que foi um período socialmente difícil, já que a AIDS ainda não tinha sido estudada, e era apenas uma doença misteriosa.

Trabalhei também para uma revista e fizemos uma série de matérias sobre o assunto, tendo entre nós um repórter e médico que veio a ser vítima da AIDS. Na verdade, comecei o romance por volta de 1999, e foi um longo trabalho entre o como escrever, de que forma narrar tais fatos e respeitar todos os envolvidos”, conta Valdo.

A AIDS na literatura

Valdo conta que, para ele, há mais tabus em quem escreve compêndios literários e em professores de literatura do que em escritores, é o que dificulta o conhecimento da existência de diversas narrativas sobre a homossexualidade e o erotismo dentro dessa comunidade.

"Acredito que há mais tabus em quem escreve compêndios literários e em professores de literatura do que em escritores. Uma cumplicidade, um silenciamento também do mercado livreiro, dos editores. O silêncio é uma forma de convivência, ou o que permite a convivência entre humanos. Daí, por exemplo, é mais conveniente discutir Guimarães Rosa sobre outras premissas que não o desejo latente entre Riobaldo e Diadorim enquanto Riobaldo tem o outro como homem. Mário de Andrade, Machado de Assis, Lúcio Cardoso escreveram obras em que o tema aparece. Não tiveram a perseguição que sofreu Adolfo Caminha quando escreveu O Bom Crioulo", explica o escritor.

Valdo relembra que a obra, de 1895, causou polêmica. "Escrito em 1895, provocou escândalos, proibição da Marinha. O escritor havia trabalhado na instituição e encararam como vingança o romance sobre um marinheiro forte e musculoso com um grumete. Caminha ainda coloca tal romance entre um negro maduro e um jovem loiro. Assim, alguns dos nossos grandes escritores escreveram sobre a questão, mas não tanto quanto outros quanto, Caio Fernando Abreu ou João Silvério Trevisan, que são ótimos. Enfim, o tabu está em quem redige compêndio literário e em quem estabelece programas de literatura. Os textos são muitos e estão por aí, disponíveis". 

Ao falar sobre a doença em questão no mundo literário, o autor defende que esse não é mais um assunto “atrasado” em diferentes produções: “Há textos excelentes que abordam a AIDS sobre diversos prismas. Eu gostaria de destacar, além dos dois autores acima, os trabalhos de Silviano Santiago e Luís Capucho. São escritores extraordinários, relatando um cenário absolutamente distinto do que está em 'Dois Meninos – Limbo'.

Resende ainda revelou que está trabalhando em uma nova obra, mas que o tema pode ser diferente, ainda que haja homossexualidade: “Estou trabalhando em um romance e o enredo é bem amplo, a temática da homossexualidade aparece, como vários outros grandes temas possíveis em uma cidade fictícia, que é o cenário do meu atual projeto literário”.


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